8 de outubro de 2014

Declaração roubada

Quando eu cheguei lá vc não conseguia olhar pra mim. Acho que pq tudo era meio surreal, não sei. Mas, a medida que a noite foi acontecendo vc me olhou.

Te achei bonita, apesar de não ter conseguido reparar no seu corpo. Seus olhos são mais úmidos que o normal, então eles brilham mais e isso é muito bonito… Gostei da sua voz e das suas mãos. E do seu esforço para não mexer no celular. E da forma irritante como você deixa de enxergar qualquer coisa que exista ao seu redor quando está com uma intenção na cabeça. Como quando você resolve chamar o garçom.

Não consegui ver seu sapato. Isso diz muito, eu acho. Mas gosto de camiseta preta. E o jeito que passa a mão no rosto.

Na minha cabeça foi um bom começo.
Não sei de quê. Sem pressa pra saber.

Mas, no mínimo, deu vontade de estar ao seu lado. E de compartilhar, de alguma maneira, a vida.

6 de novembro de 2012

sobre a loucura 2

é chegado um ponto em que a loucura e a doença se confundem. é que o louco, o verdadeiro louco, nunca é doente. doente é o normal. o padrão. o comum, que se contaminou com os outros normais ao redor.

o louco, ah o louco. esse não é doente. é saúde, é alma. o louco transborda. já o doente, às vezes, cria a carapuça de louco para se guardar. finge que é louco, imita o louco, naquelas atitudes que todos os mais normais costumam fazer. adoece.

adoeci.

6 de junho de 2012

carnaval

"Era uma vez, uma menina de coração partido, quebrado em mil pedacinhos. Um dia, ela resolveu se fantasiar e sair de casa, estancar a dor, colocar uma máscara para esconder as lágrimas. E assim ela saiu.

No caminho, era pra ela encontrar um anjo. Mas esse anjo, invertendo os papeis, resolveu quebrar as asas, beber além da conta e acabou por dormir na sarjeta, deixando ela passar sem socorrê-la. Só que essa menina, atenta como só, viu o anjo ali caído e foi com ele conversar: “ei! Levante-se anjo da asa quebrada, recomponha-se e venha brincar: é carnaval”. E foi aí que tudo aconteceu, eles se conheceram, deram risadas, passaram uma noite sensacional, como poucas. Viram que no passado, no presente e no futuro, são parte um da vida do outro. Como várias e várias vidas que se cruzam ao acaso na Terra. Acaso. Palavra engraçada, irônica, às vezes. E esse acaso, que às vezes fazendo uso de sua ironia, faz as pessoas se encontrarem no lapso do tempo, em descompasso com o caminhar da vida. Ela surgiu na hora errada. Ele se fez na hora errada. Ou ambas as horas eram certas, isso a vida talvez responda um dia.

Eles se separaram, mas a história não terminou ali. Ela, com um pedaço do coração dele. Ele, com uma pena da asa dela.

 E a esperança de um dia se verem de novo."

16 de março de 2012

sobre comer sozinho

A mesa logo lhe chamou a atenção. Pequena, a única com apenas dois lugares, no canto daquela cantina italiana que por várias vezes passara na porta, mas nunca se convenceu a entrar. Ali ele sentou, sozinho. É que as vezes ele precisa da solidão. A solidão o leva à loucura, e a loucara é o que lhe move.

5 de agosto de 2011

O que eu queria era te ver por dentro. Atravessar a carne e abraçar a alma.

12 de julho de 2011

Inquieto, ele entra no quarto. Corre, vasculha, procura. Tenta, em vão, se lembrar da última vez que a tinha visto e, de repente, se sente um idiota em fazer toda aquela bagunça. Afinal, o que estava procurando mesmo? Se jogou na cama e deixou aquela onda de pensamentos se esvaziar com a música que tocava ao fundo. Nunca tinha reparado, mas sabia todas as letras do velho disco de jazz de seu pai, mesmo não tendo se esforçado, uma vez sequer, em decorar as palavras.

Era uma foto antiga que procurava. Foi bom aquele dia. Ele e sua namorada haviam passado a tarde no parque, ele tirava fotos dela enquanto planejavam a próxima viagem. Foi ali, naquele momento, enquanto clicava a foto, que percebeu que o que tinham não ia durar. No fundo, o jazz continuava a tocar, bem baixo, enquanto ele se perguntava o que havia acontecido com a antiga paixão. Afinal, se passaram anos desde a última vez que se falaram. "E se eu ligasse pra ela?". Engraçado. Ele ainda se perguntava isso de tempos em tempos.

Sentia que lhe faltava inspiração para fazer tudo aquilo que queria. Sabia que ela viria, uma hora ou outra, mas não saberia dizer, ao certo, quando. Afinal, assim funcionam as inspirações, não é mesmo? Imprevisíveis, espontâneas, intensas e, no caso dele, acreditava, mais do que para os outros, fulgaz. Uma descrição perfeita da mulher perfeita.

Foi quando a viu entrar no quarto, bem devagar, e deitar na cama com ele. Sabia que era um sonho, mas decidiu que resolveria aquela história ali mesmo.

- Por que você me deixou, afinal?
- Oras, você sabe o porquê...
- Achava que sabia. Agora não sei mais. Como estão seus pais?
- Você sabe, sim...
- Não vai me dizer que era por conta daquele canalha. Aliás, como vai aquele canalha?
- Não foi por conta dele. Não foi por conta de ninguém. Foi o seu jeito de me olhar que mudou. Perdeu o foco....
- Você era tudo pra mim...
- E não era nada! Não vê que, antes de me perder, você se perdeu? Até hoje, continua andando sem rumo... Você mudou... e me mudou...

E ela se inclinou e lhe deu um beijo. E com o beijo, vieram todas as lembranças, a imagem daquela casa na praia, os sons familiares da estação de trem, onde se conheceram. E onde a viu pela última vez.

E ele acordou. Se levantou, lavou o rosto e se olhou no espelho. "Que jeito de olhar?". Soube ali que essa resposta demoraria a chegar. Mas sabia também que as palavras dela, as do sonho, ecoariam na sua mente por muito tempo ainda. Resolveu voltar para o quarto, junto às várias caixas reviradas. "Hora de colocar as coisas em ordem".

3 de junho de 2011

Vício

Amor é um veneno que te mata aos poucos.

Mas daqueles que, sem ele, a morte se apressa em chegar.

30 de dezembro de 2010

Vai. Escancara sua alma para o mundo. Sente o vento bater e levar pra longe o medo. Vai viver.

5 de novembro de 2010

São tantos e tantos conselhos.... o que fazer, onde ir, como se comportar.

Mas ninguém me diz o que fazer com toda essa saudade.

15 de outubro de 2010



Trabalho do fotógrafo Lilo Faria.